Portal para hoje

domingo, setembro 28, 2014
Imagem retirada de www.art-spire.com
Há sempre uma razão para voltar. Seja aonde, a quem ou a quando for, encontro sempre razões para reviver. O travesseiro é o portal para me permitir regressar ao que deixei para trás. Acordado, a dormir ou nem por isso, dou por mim à procura de onde fui mais feliz do que sou agora que tento sobreviver.

A vida passou e pareceu não deixar rasto. Entro na passagem improvisada numa cama vazia, de gente e de sonhos e é aí que vejo a reluzir as pegadas, ténues vestígios do que fui. Quero voltar. Quero estar ali, ao pé de ti, refazer a linha do futuro para não precisar voltar atrás, ou sequer dormir.

Todos os dias é assim, vivo com todos os que deixei, ou me deixaram, futuros diferentes, futuros imperfeitos, tal como o meu de hoje. Nenhum me tira a vontade de encostar a cabeça na almofada e percebo que só este que vivo pode encher o que ficou vazio. E continuo...

Desproporções

domingo, outubro 04, 2009
E se o teu mundo,de repente, se torna maior do que tu? Se tudo o que conheces assume proporções que não consegues sequer identificar. A noção de controle desaparece e fico sempre com a sensação de impotência perante todas as enormidades. As acções têm consequências mais rápidas e maiores do que alguma vez calculaste. Tudo o que fazes, é sempre pequeno demais. Como se, de um momento para o outro, um espirro fosse um tornado e o lenço, sempre pequeno demais,  voa com o resto.
Às vezes, o teu ser é maior que o teu corpo e só queres voltar a ser pequeno.
Às vezes o que fazes não tem volta e o caminho que sigo só pode ser o correcto, porque, se não for, o mundo deixa de ser o teu.
Perco o sentido anterior, o fio condutor, a melodia que pautava a vida. Tudo o que era antes, deixa de ser, e as prioridades invertem-se. As tuas importâncias são meros pormenores nas vidas que são, no fundo, as tuas e se regeram , até aqui, pelas mesmas proporções.
Deixo de ter pernas, tudo é mais rápido que eu, até o tempo, que apenas tem efeito nos outros. Todos te fogem, e mudas de óculos, na esperança que as lentes te estejam a cegar, todos se regem pelas mesmas regras e o teu mundo é maior, ou menor, com uma certeza, não é igual e vês o mesmo.
Tens que tentar perceber aquilo que não consegues sequer identificar.
E tudo continua, sem sequer te perguntar se estás pronto, ou pelo menos se sabes onde pisas.

O anti-Natal

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Descobrindo a cada ano que o Natal é um turbilhão de emoções contraditórias, sentimentos de ternura que se diluem na raiva de quem os vê com desdém. Não me preocupa em mais nenhuma altura do ano, excepto no Natal. E, curiosamente, quando uma tentativa de ternura, particularmente difícil, é frustrada por um frustrado invejoso.

Sentimentos de inveja, são benéficos, dão valor a quem o tem, e, quero acreditar, melhora quem inveja. Não será o caso, contudo, a esperança de que um dia um acto de ternura seja reconhecido como tal, o valor seja dado a quem o tem e a inveja não frustre mais ninguém, existe. É, aliás o que, ano após ano, faz do Natal uma época de esperança, frustração, alegria e tristeza.

Mas este sentimento carece de uma capacidade enorme para lidar com ele, senão engole-nos e transforma-nos. Quando a inveja é gratuita e se enaltece o que é nosso, por frustração, apenas para nos fazermos crer que tudo o que invejamos, está, afinal em nós, é aí! É aí que a inveja perdura mais do que o momento em si, se espalha tal como um vírus mutante, pois muitas vezes se transforma em raiva. É aí que o invejado, em vez de sentir o seu valor a crescer, se sente frustrado, frustrado por um frustrado invejoso.

É aí que o Natal se transforma em anti-Natal.

Seu Jorge - Brasis

quarta-feira, junho 06, 2007
Tem um brasil que é próspero
Outro não muda
Um brasil que investe
Outro que suga
Um de sunga
Outro de gravata
Tem um que faz amor
E tem o outro que mata

Brasil do ouro, brasil da prata
Brasil do balacochê da mulata

Tem um brasil que é lindo
Outro que fede
O brasil que dá é igualzinho ao que pede
Pede paz, saúde, trabalho e dinheiro
Pede pelas crianças do país inteiro
Lararará

Tem um brasil que soca
Outro que apanha
Um brasil que saca
Outro que chuta
Perde, ganha
Sobe, desce
Vai à luta bate bola
Porém não vai à escola

Brasil de cobre, brasil de lata
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuso, é confusão
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuso, é confusão

Oh pindorama eu quero seu porto seguro
Suas palmeiras, suas feiras, seu café
Suas riquezas, praias, cachoeiras
Quero ver o seu povo de cabeça em pé