Café

quinta-feira, agosto 04, 2005
Chego ao café cedo, não está ninguém que conheça, tomo café, calmamente, na secreta esperança que apareça alguém que me faça companhia. Parece triste ir ao café sozinho, mas é a melhor maneira de socializar. É bom encontrar pessoas que só nos conhecem de vista e que nos convidam para sentar, conhecemos pessoas interessantes, mesmo que sejam as pessoas mais desinteressantes do mundo.

São raras as pessoas que não têm rigorosamente nada de novo a oferecer. Existem, mas é um tremendo azar encontrá-las numa noite que esperas passar sozinho. Conhecemos de tudo, desde os chicos-espertos que acham que são experts em tudo, desde o curling ao estado económico e social do Bangladesh, até aqueles que não sabem nada além do que exercem ( e mesmo assim...).

Mas encontramos sempre alguém que nos ensina qualquer coisa, e nesse momento não damos a noite como perdida, mesmo que tenho sido a mulher da limpeza do prédio ao lado a dizer-nos que o amoniacal não funciona como a lixívia quando lavamos a casa de banho. Aprendemos sempre, mesmo que seja a não aturar o mesmo gajo amanhã.

Normalmente corremos o risco de encontrar pessoas, que, como nós, são interessantes à sua maneira. Não espero que toda a gente me ache interessante, como não espero que toda a gente seja interessante do modo que eu gostaria, mas é preciso aproveitar o que nos é dado, não pagamos, não temos o compromisso de aprender, mas é bom saber que há pessoas interessantes de ângulos que normalmente não olhamos.

Ir ao café não é tão inútil como se pensa, aprende-se mais do que no seminário de " Como fazer política no pós 25 de Abril."
Tem um senão, não dá para ganha-pão ( e ainda bem, senão o Santana Lopes ainda chegava a Primeiro Ministro), mas dá para crescermos como pessoas.
Todos temos a aprender com uma ida ao café sozinhos, mesmo que não conheçamos ninguém, saber observar já ajuda.

Chego ao café cedo, não está ninguém que conheça, tomo café, calmamente, na secreta esperança que apareça alguém que me faça companhia, e aparece sempre alguém que valha a pena ganhar alguns minutos a conversar.

Quando não tens defesa, ataca!

Ouvi esta frase hoje pela primeira vez, pareceu-me generalista, mas, dois segundos depois, concordava a cem por cento. Pareceu-me bem mais acertada que a conhecida " o ataque é a melhor defesa", porque não se trata de atacar por atacar, mas sim atacar porque a alternativa é admitirmos que errámos ( e isso é mais difícil do que se pensa), é admitir que algures ao longo do percurso, fizemos ou dissemos alguma coisa que não devíamos, algo que pode até ir contra os nossos princípios, e que nos custa a engolir.

Quem de nós não utilizou esta técnica, abominável para alguns, que são falsos moralistas ( "isso não se faz porque eu sou uma pessoa que admite todos os erros que comete, quando cometo"), ou que, pura e simplesmente, nunca se deram conta que o fazem na mais corriqueira conversa de café?

Quem de nós nunca viu outra saída para uma situação que não o ataque? Quem de nós nunca se viu numa situação em que é mais fácil dizer: " Pois é, e se tu não tivesses convidado o teu ex-namorado? Foi de propósito foi?" ou " E daquela vez em que tu..." É mais fácil atacar do que admitirmos o erro para além dos limites aceitáveis. Especialmente com mulheres.

As mulheres nunca se contentam com um simples pedido de desculpas ( nem os de joelhos se safam...), admitir que errámos não é suficiente. Ainda não consegui perceber o que é preciso para que elas digam: " Pronto, está bem, mas não voltes a fazer!". É incrível como quando falamos com uma mulher elas nunca se contentam com o admitir de um erro, não... têm que puxar e puxar até que admitamos mais algum, ou então que percamos a cabeça e passemos ao ataque. É aqui que, com toda a sua mestria, as mulheres viram o bico ao prego e nos fazem sentir como se fossemos a causa da fome no mundo.

Ao adoptarmos esta estratégia com uma mulher, estamos a cometer um erro tremendo! Pela simples razão que temos uma memória muito inferior no âmbito dos erros. Elas lembram-se daquela vez em que não nos lembrámos do aniversário da prima do João que mora em Aguada de Baixo e que conhecemos no Algarve, enquanto nós não nos lembramos de quando ela esteve o tempo todo a fazer olhinhos ao João no aniversário da prima dele.

No entanto, é fácil recorrermos a este artifício argumentativo, quando estamos em apuros. Chegamos ao cúmulo de guardar coisas para uma situação de confronto, "Esta vou guardar para quando fizer merda!". Há até quem catalogue os erros do outro para utilizar consoante o grau da discussão. Somos assim, como os animais ( que somos ), agressivos quando nos atacam. É o instinto de sobrevivência que nos impele ao ataque. É esse mesmo instinto que nos protege, de certa forma, das agressões de uma simples conversa de café.

Se reflectir, moralmente, não devia concordar com esta frase, pois seria muito mais fácil se toda a gente fizesse o mesmo, mas não; tenho que me defender, porque não há piedade nestas coisas.
Racionalmente, temos que admitir que todos o fazemos, fizemos, ou iremos fazer, foi assim que algumas espécies animais sobreviveram milénios.
Somos animais! Ou não somos?